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CONSUMO CRESCE E ELEVA PROJEÇÕES PARA O PIB

Silvia Matos, do Ibre: “O cenário político limita a velocidade de crescimento” Com o investimento ainda em retração, a demanda das famílias deve puxar o leve crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre e também em 2017, após dois anos de recessão, segundo economistas. A melhora das condições financeiras das famílias por causa da queda da inflação e dos juros, do saque do FGTS, e o pequeno aumento da população ocupada, ainda que no mercado informal, ajudam a atividade. Depois de oscilar entre abril e maio, os indicadores de junho – comércio e serviços, em especial – surpreenderam e levaram várias instituições a elevar suas estimativas para o PIB do segundo trimestre. As revisões não são drásticas, mas marcam uma reversão das expectativas, que eram de piora por duas razões: o fim do efeito safra que puxou o aumento de 1% no PIB do primeiro trimestre e a forte turbulência política causada pelas delações da JBS. Divulgado ontem, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), considerado uma prévia do PIB, subiu 0,25% no segundo trimestre sobre o primeiro, feito o ajuste sazonal. Em junho sobre maio, aumentou 0,5%. Mesmo diante do dado positivo, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, preferiu, no entanto, manter a cautela e disse ontem que o PIB do 2º trimestre pode ainda ficar “próximo de zero ou quem sabe até um pouco negativo”. Mas isso não significa que a retomada não esteja em curso. O processo de desinflação é o mais importante no jogo de forças da economia no momento, afirma Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro, do Ibre-FGV. “Isso forma um quadro mais favorável para o consumo e para a economia nos próximos trimestres”. Silvia ressalta que a retomada da demanda das famílias virá em nível mais baixo do que em anos anteriores. “Não há capacidade para crescer muito. Não vai haver excesso de crédito, excesso de consumo.” Segundo ela, os brasileiros estão quitando débitos, mas continuam endividados. O Ibre-FGV prevê alta de 0,5% no consumo das famílias no segundo trimestre, número que pode ser revisto para cima, assim como a estimativa do PIB do período, atualmente em queda de 0,3% ante o primeiro trimestre, feito o ajuste sazonal. Esta última deve melhorar, mas continuar negativa. Há outros elementos que jogam contra. O investimento ainda deve vir ruim. A construção civil continua com números muito negativos e o segmento de máquinas e equipamentos diminuiu a queda, mas enfrenta cenário difícil, limitado pela grande ociosidade das fábricas. Ao mesmo tempo, incertezas, como as que envolvem a eleição presidencial não incentivam o aporte das empresas. “O cenário político limita a velocidade de crescimento”, diz Silvia. A projeção é que o investimento tenha queda de 3% em 2017. A previsão do consumo das famílias para o é de alta de 0,1% e a do PIB, de 0,2%. As surpresas positivas de junho no varejo, serviços e mercado de trabalho também levaram o Itaú a melhorar a previsão para o PIB do segundo trimestre, de queda de 0,2% para estabilidade ante o primeiro trimestre. Os dados de trabalho em especial foram bons. Não se esperava queda da taxa de desemprego antes do fim deste ano ou início do próximo. Esse recuo foi comandado pelo emprego informal, mas o banco ressalta que isso também contribui para o aumento da massa salarial. A grande mensagem dos indicadores de junho, diz Patricia Pereira, economista da Mongeral, foi a de que a crise política não arrefeceu a atividade. Os índices de confiança caíram no mês, o que levou o mercado a esperar um pé no freio dos agentes econômicos. Não foi o que aconteceu. “Estávamos pessimistas. Mas talvez tenhamos de fato chegado ao piso”, diz. A Pnad Contínua do segundo trimestre e os dados do Caged de maio e junho indicam melhora consistente do mercado de trabalho, na opinião de Patricia. “Ambos surpreenderam porque o mercado de trabalho geralmente é último a piorar, mas também o último a melhorar”. Aumentou o número de pessoas procurando emprego e ainda assim há mais pessoas ocupadas. “Esta é uma melhora genuína do mercado de trabalho.” A Mongeral espera estabilidade no PIB do segundo trimestre ante o primeiro, de uma expectativa anterior de queda de 0,2%. Para o ano, a previsão continua em alta de 0,3%. “Estamos longe de devolver a queda dos últimos anos e devemos terminar o ano ainda no nível de 2014, mas é um começo”, di Patricia. O aumento da massa de salários foi um dos fatores citados pelo IBGE e economistas para o melhor desempenho do varejo, que em junho teve alta quase generalizada em dez segmentos, na comparação com maio e também ante o mesmo período do ano passado. Marco Caruso, do Banco Pine, vê melhora no consumo das famílias, mas relativiza o peso da liberação das contas inativas do FGTS. “Muita gente está usando o fundo para explicar o consumo, mas corre-se o risco de menosprezar outros fatores relevantes”, diz. Entre eles está a melhora das confiança e das finanças das famílias, influenciadas pela queda dos juros e da inflação. Há mais espaço no orçamento. “Há uma descompressão de custos que se traduz em condições financeiras mais favoráveis para famílias e empresas”, afirma Caruso, para quem a demanda ajudou o PIB no segundo trimestre. A massa real de salários está maior, o crédito à pessoa física, mais barato, enumera. “Haverá uma contribuição importante na margem.” Ao longo do segundo semestre, o consumo deve beneficiar a atividade na medida em que o desemprego se estabilize e a queda dos juros se torne mais perceptível para os tomadores de crédito. Neste sentido, diz Caruso, o PIB para o ano também deve ter um desempenho melhor que o esperado. “Mas não vai ser nada extraordinário. Tudo o mais constante, o PIB pode crescer acima de 0,5%, em vez de algo no intervalo de zero a 0,5%, que parecia mais justo até algum tempo atrás. ” O Pine elevou a previsão para o segundo trimestre de alta de 0,1% para avanço de 0,3%. O banco Haitong deve revisar para cima a estimativa para o PIB do segundo trimestre, atualmente entre estabilidade e queda de 0,2%. Para o ano, a previsão é de estabilidade, por enquanto. A boa surpresa do varejo restrito e ampliado (inclui veículos e materiais de construção) pode ser creditada ao aumento da massa de renda e aos saques do FGTS, considera Flavio Serrano, economista da instituição. Mas ele vê o bom momento do consumo como algo pontual. “Pode ser que tenha crescido em junho, mas não deve liderar a retomada num período mais longo por causa da alta taxa de desemprego. Há muita ociosidade no mercado de trabalho”, diz. A baixa dos juros e da inflação ajuda, mas a economia seguirá em seu processo muito gradual de recuperação. Se como for, foram reduzidas as chances de haver uma leitura negativa no segundo trimestre, diz. Outra instituição a revisar o PIB foi a Quantitas. Projeta agora expansão de 0,1% no segundo trimestre ante o primeiro, de queda de 0,2% estimada antes. A projeção para o terceiro trimestre continuou em alta de 0,3%, mas a do quarto subiu de 0,3% para 0,5%. Agora, a Quantitas trabalha com expansão de 0,6% e 2,1% para 2017 e 2018, respectivamente, ante 0,3% e 1,9% anteriormente. “Continuamos com viés para cima para 2018”, afirma em relatório. Para Silvia, do Ibre-FGV, o consumo doméstico pode beneficiar a produção industrial mais à frente e o setor externo deve continuar positivo, apesar do câmbio mais valorizado. O ambiente favorável aos emergentes lá fora também atua a favor. “O investidor externo acredita que vale a pena correr o risco, pelo menos por enquanto”, diz. Entre os riscos à retomada da atividade, Silvia cita a situação dos Estados, o corte dos investimentos pelo governo e o complicado cenário fiscal. (Colaboraram Eduardo Campos, de Brasília, e Estevão Taiar, de São Paulo)

Fonte: Site GS Noticias

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