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BRASIL: Sete Estados ainda devem encolher este ano, diz estudo

Após um longo e profundo ciclo recessivo, a economia cresceu pelo segundo trimestre consecutivo e sinalizou que o pior da crise ficou para trás. O ritmo da retomada, porém, será discrepante pelo país. Das 27 unidades da federação, sete devem ter queda do Produto Interno Bruto (PIB) em 2017. Estados do Centro-Oeste e Sul crescem mais rapidamente, puxados pelo agronegócio, enquanto a maioria dos Estados do Nordeste deve patinar.

Estudo – A conclusão faz parte do estudo “Mapa da recuperação econômica”, dos economistas Everton Gomes e Rodolfo Margato, do banco Santander, obtido com exclusividade pelo Valor. O relatório busca antecipar o resultado do PIB por unidades da federação, dados que são calculados e divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com três anos de defasagem das Contas Nacionais.

Média nacional – De acordo com o estudo, o PIB deve crescer 0,5% neste ano na média nacional. No âmbito dos Estados, porém, a safra nacional recorde de grãos vai atuar como uma espécie de “locomotiva” de crescimento para as economias de Mato Grosso (5,1%), Maranhão (3,1%), Mato Grosso do Sul (2,4%), Goiás (2,2%), Santa Catarina (2%), Tocantins (1,9%), Piauí (1,7%), Paraná (1,7%) e Rio Grande do Sul (1,5%).

Contribuição – Segundo Margato, o desempenho favorável do campo vai contribuir para a economia dessas unidades da federação de modo direto, via crescimento do PIB agropecuário, e também indireto, por meio do avanço das agroindústrias e das atividades de serviços. Na média nacional, o banco prevê que o PIB agropecuário vai crescer 8,5% este ano, acima do desempenho previsto para a indústria (+0,6%) e para os serviços (-0,1%).

Efeitos indiretos – “A renda agrícola está exercendo efeitos indiretos importantes sobre as agroindústrias, o mercado de trabalho e o setor de serviços, potencializando os estímulos às economias dessas regiões”, acrescenta o economista, que baseou suas projeções numa série de pesquisas conjunturais divulgadas mensalmente pelo próprio IBGE, além de dados do mercado de trabalho formal medido pelo Ministério do Trabalho.

Contramão – Na contramão dessa retomada estão os Estados com pouco peso do agronegócio em suas economias e com setores industriais que vêm exibindo baixo dinamismo. O caso mais grave é o do Rio de Janeiro. O PIB fluminense deverá encolher 1,4% este ano, reflexo de um tombo de 2,3% dos serviços. Este setor, movido por fatores como renda e emprego, representa dois terços da economia do Estado do Rio.

Crise fiscal – Além do fim das obras relacionadas à Copa do Mundo e às Olimpíadas, o Rio vive uma profunda crise fiscal, com reflexos sobre os salários de servidores públicos e corte nos investimentos. “Enquanto no Rio a massa salarial caiu 1,3% em junho, na comparação ao mesmo mês de 2016, no Mato Grosso do Sul ela cresceu quase 12%. Isso ajuda a entender o PIB de serviços tão ruim do Rio”, diz Margato.

Previsão – No relatório, os economistas preveem que o PIB de nove estados brasileiros terão desempenho abaixo da média nacional. Desses, cinco são da região Nordeste: Alagoas (-1%), Pernambuco (-0,6%), Bahia (-0,3%), Paraíba (0,1%) e Sergipe (0,1%). Outros dois estão localizados na região Norte: Acre (-0,3%) e Pará (-0,2%). Além do Rio de Janeiro, completa a lista o Distrito Federal, com queda do PIB prevista em 0,2%.

Início da década – Segundo Margato, a economia do Nordeste foi impulsionada no início da década por grandes obras públicas de infraestrutura. Esse motor foi desligado com a questão fiscal do país. Pela ótica da demanda, os investimentos recuaram 5,1% no primeiro semestre em todo o país, na comparação ao mesmo período do ano passado. Pela ótica da oferta, a atividade de construção recuou 6,6% nessa mesma base de comparação na média nacional.

Queda prevista – Nos casos de Pernambuco e Bahia, a queda prevista do PIB tem relação também com o fraco desempenho de atividades industriais, sobretudo nos ramos metalúrgico e químico/petroquímico. Segundo o estudo, a economia do Ceará deve se destacar dos demais Estados da região Nordeste e crescer 0,5%, puxada exatamente pela melhora de atividades industriais, como têxtil e metalúrgica.

Positivo – A indústria também vai contribuir positivamente para o aumento do PIB dos Estados de Minas Gerais (1,2%), Espírito Santo (0,7%), São Paulo (0,5%) e Amazonas (0,5%). Nos casos de Minas Gerais e São Paulo, o aumento tem forte influência da produção de veículos. Espírito Santo deve ser puxado pela indústria extrativa. Amazonas, pela produção da Zona Franca de Manaus.

São Paulo – “O PIB de São Paulo terá contribuição positiva do agronegócio, mas de forma menos decisiva do que em outros Estados. São Paulo tem culturas como cana-de-açúcar, café e laranja, cuja safra cresce menos do que a de soja e milho. O setor de serviços também terá desempenho melhor, reflexo da estabilização do mercado de trabalho”, acrescenta o economista do Santander.

Fundamentos macroeconômicos – Os fundamentos macroeconômicos vêm exibindo dinâmica mais benigna este ano, com destaque para desaceleração da inflação, cortes agressivos dos juros, redução do risco-país, tendência de alta de indicadores de confiança e estabilização do mercado de trabalho. Para o banco, isso contribuirá para reduzir a diferença de ritmo de recuperação entre as regiões no futuro.

Consumo doméstico – “Com a recuperação do consumo doméstico difundido entre as regiões, as diferenças vão se reduzir. É provável, porém, que Estados do Norte e Nordeste continuem abaixo da média, efeito da maior dependência de investimentos públicos, cuja recuperação deverá ser bastante lenta, em linha com o desafio fiscal do governo de equilibrar suas contas altamente deficitárias”, avaliaram os economistas.

Fonte: Valor Econômico

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